Porque namorar não
é magoar
Luísa
fitava a terra lamacenta que pisava. Nasciam flores aleatórias pela terra
incrivelmente húmida e pegadas cravadas na mesma. A menina do corpo frágil
observava com muita atenção, como se fosse a primeira vez que dava de caras com
o fenómeno de mistura da água com a terra.
Uma
sombra surgiu no piso.
— Luísa? — perguntou uma voz
rouca.
A
menina queria ver de quem era aquela voz misteriosa, mas não tinha força para
erguer a cabeça e deixou-se cair sobre as flores que cobriam a lama.
—
Luísa?! Eu sei que estás aí!
Agora
que a chamavam outra vez, Luísa percebeu que a voz que lhe parecera inocente,
pertencia ao seu namorado, não tão “inocente” como pensara.
— O que
é que estás a fazer deitada no chão? És ridícula, levanta-te daí! — disse Rafael com desprezo, cuspindo-lhe para a
face enlameada.
Luísa
verteu uma lágrima, deixando-se ficar estendida na terra. A menina sentiu uma
mão puxar-lhe o cabelo com força.
— Ou te
levantas a bem, ou te levantas a mal, ouviste?!
Luísa
ajoelhou-se. A sua mão direita apoiava-se nas pernas magras, para que se
conseguisse levantar. Assim que conseguiu olhar para os olhos negros de Rafael,
lembrou-se do que sua avó lhe dissera antes de morrer. Enraivecida por não ter
prestado atenção ao conselho da sua avó, lançou um olhar profundo e matador e
disse com firmeza:
— Rafael, chega! Namorar não é
magoar, namorar é respeitar!
Luísa virou-lhe as costas,
ultrapassando a poça de lama.
Rafael ficara imóvel como
estátua. Seus olhos negros como a noite, arregalados, fitavam Luísa. Suas mãos,
antes de punho fechado, abriam-se, deixando sentir o vento.
Luísa andou calmamente em direção
ao arco- íris que surgira, fazendo com que Rafael a perdesse de vista.
Violeta Penedo
Sem comentários:
Enviar um comentário