quarta-feira, 8 de março de 2017

Texto sobre a Violência no Namoro



Porque namorar não é magoar


Luísa fitava a terra lamacenta que pisava. Nasciam flores aleatórias pela terra incrivelmente húmida e pegadas cravadas na mesma. A menina do corpo frágil observava com muita atenção, como se fosse a primeira vez que dava de caras com o fenómeno de mistura da água com a terra.
Uma sombra surgiu no piso.
­— Luísa? — perguntou uma voz rouca.
A menina queria ver de quem era aquela voz misteriosa, mas não tinha força para erguer a cabeça e deixou-se cair sobre as flores que cobriam a lama.
—  Luísa?! Eu sei que estás aí!
Agora que a chamavam outra vez, Luísa percebeu que a voz que lhe parecera inocente, pertencia ao seu namorado, não tão “inocente” como pensara.
— O que é que estás a fazer deitada no chão? És ridícula, levanta-te daí! —  disse Rafael com desprezo, cuspindo-lhe para a face enlameada.
Luísa verteu uma lágrima, deixando-se ficar estendida na terra. A menina sentiu uma mão puxar-lhe o cabelo com força.
— Ou te levantas a bem, ou te levantas a mal, ouviste?!
Luísa ajoelhou-se. A sua mão direita apoiava-se nas pernas magras, para que se conseguisse levantar. Assim que conseguiu olhar para os olhos negros de Rafael, lembrou-se do que sua avó lhe dissera antes de morrer. Enraivecida por não ter prestado atenção ao conselho da sua avó, lançou um olhar profundo e matador e disse com firmeza:
    Rafael, chega! Namorar não é magoar, namorar é respeitar!
Luísa virou-lhe as costas, ultrapassando a poça de lama.
Rafael ficara imóvel como estátua. Seus olhos negros como a noite, arregalados, fitavam Luísa. Suas mãos, antes de punho fechado, abriam-se, deixando sentir o vento.

Luísa andou calmamente em direção ao arco- íris que surgira, fazendo com que Rafael a perdesse de vista.


Violeta Penedo



Sem comentários:

Enviar um comentário