quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Texto redigido a partir de uma sensação auditiva



A MINHA INFÂNCIA


Eu lembro-me de quando era criança e não tinha de me preocupar com nada, nem sequer com a escola, era tudo tão fácil e divertido! Mal chegava a casa, não tinha de me preocupar com os estudos ou com os trabalhos de casa, pois tudo o que tinha de fazer era brincar a tarde toda. 
Era uma festa em casa, quando fazia um desenho novo. Os meus pais colocavam-no logo no frigorífico, após uma série de elogios e abraços. Agora, as únicas coisas que estão no frigorífico são as tarefas que tenho de fazer e dividir com a minha irmã.
Também guardo muitas recordações da minha irmã gémea, daquelas discussões nas quais o problema eram os dois centímetros de sumo a mais no copo ou a minha mão na sua metade de sofá.
As coisas mais marcantes da nossa infância são as brincadeiras e as partidas. Lembro-me, como se fosse ontem, de quando punha os braços dentro da camisola e dizia que os tinha perdido; de quando dormia com todos os peluches, para que nenhum se sentisse ofendido; de quando tinha uma caneta de quatro cores e carregava em todas ao mesmo tempo, para ver se dava; de quando punha água na tampa da garrafa e bebia; de quando esperava atrás da porta, para assustar alguém, mas acabava por desistir, porque essa pessoa demorava demasiado tempo a chegar; de quando fingia que estava a dormir no sofá, para que me levassem até a cama; de quando olhava para a janela nos dias de chuva e fazia uma corrida de gotinhas de água; de quando engolia o caroço de uma fruta e tinha medo que me crescesse uma árvore na barriga; de quando ficava aborrecida com a fada dos dentes, por não encontrar a desejada moeda debaixo da almofada.
Nós queremos tanto crescer, que nos esquecemos das desvantagens disso e só vemos as suas vantagens. Sempre quis chegar aos 18 anos, mas agora percebo que não é tão divertido crescer, porque as responsabilidades e as tarefas aumentam muito com o passar dos anos. Aprendi também, que a maturidade não vem da idade, mas sim da mentalidade.
Não podemos perder o nosso lado de criança, nunca... Mas quando olho para mim, sinto que a criança que era, vai perdendo lugar e só sobrevivendo nas recordações.

Beatriz Baixinho