A MINHA INFÂNCIA
Eu lembro-me de quando
era criança e não tinha de me preocupar com nada, nem sequer com a escola, era
tudo tão fácil e divertido! Mal chegava a casa, não tinha de me preocupar com
os estudos ou com os trabalhos de casa, pois tudo o que tinha de fazer era brincar
a tarde toda.
Era uma festa em casa, quando fazia um desenho novo. Os meus pais
colocavam-no logo no frigorífico, após uma série de elogios e abraços. Agora, as
únicas coisas que estão no frigorífico são as tarefas que tenho de fazer e
dividir com a minha irmã.
Também guardo muitas recordações da minha irmã gémea, daquelas discussões
nas quais o problema eram os dois centímetros de sumo a mais no copo ou a minha
mão na sua metade de sofá.
As coisas mais marcantes da nossa infância são as brincadeiras e as
partidas. Lembro-me, como se fosse ontem, de quando punha os braços dentro da
camisola e dizia que os tinha perdido; de quando dormia com todos os peluches,
para que nenhum se sentisse ofendido; de quando tinha uma caneta de quatro
cores e carregava em todas ao mesmo tempo, para ver se dava; de quando punha água
na tampa da garrafa e bebia; de quando esperava atrás da porta, para assustar
alguém, mas acabava por desistir, porque essa pessoa demorava demasiado tempo a
chegar; de quando fingia que estava a dormir no sofá, para que me levassem até
a cama; de quando olhava para a janela nos dias de chuva e fazia uma corrida de
gotinhas de água; de quando engolia o caroço de uma fruta e tinha medo que me crescesse
uma árvore na barriga; de quando ficava aborrecida com a fada dos dentes, por
não encontrar a desejada moeda debaixo da almofada.
Nós queremos tanto crescer, que nos esquecemos das desvantagens disso e só
vemos as suas vantagens. Sempre quis chegar aos 18 anos, mas agora percebo que
não é tão divertido crescer, porque as responsabilidades e as tarefas aumentam
muito com o passar dos anos. Aprendi também, que a maturidade não vem da idade,
mas sim da mentalidade.
Não podemos perder o nosso lado de criança, nunca... Mas quando olho para
mim, sinto que a criança que era, vai perdendo lugar e só sobrevivendo nas
recordações.
Beatriz Baixinho